Canto Litúrgico I

De acordo com a Instrução Geral do Missal Romano (39, 40, 103 e 104) não é função dos cantores substituir os fieis na execução do canto litúrgico, mas favorecer e ajudar a sua participação. Mas isso, às vezes, não acontece. Muitos cantam sozinhos, em tom exageradamente alto, dificultando a participação de todos. A função dos cantores é CANTAR A LITURGIA  e não CANTAR NA LITURGIA (como se desse um showzinho no coro). Os cantores também devem ensaiar com antecedência, para respeitar o silêncio que deve preceder a Santa Missa, para que os fieis possam fazer suas orações e se prepararem dignamente para a Eucaristia.

Outras vezes são os instrumentos que acabam abafando a voz dos fiéis. Ouve-se a música, mas não se ouve a mensagem, a letra, e esta é mais importante. Também, às vezes, canta-se algo que é apenas do gosto dos cantores, sem nenhuma fidelidade ao tempo litúrgico ou à festa que se celebra. Tudo isso precisa ser avaliado e repensado, para que o canto litúrgico recupere a sua importância no âmbito da Liturgia. Portanto:

Procurem os responsáveis pelo canto cantar com a assembléia, e não para a assembléia. Devem cantar a liturgia, e não na liturgia. Quer dizer: os cantos devem estar identificados com a festa ou com o tempo litúrgico, como também com o rito que eles acompanham, ou com o rito que eles próprios são. Evitem os cantores com suas vozes abafar a voz do povo;

A equipe de cantores precisa conhecer a função dos cantos na liturgia. Uns acompanham o rito, como os cantos processionais de entrada, das oferendas e da comunhão, e também o “Cordeiro de Deus”, este acompanha o rito da fração do pão. Assim, estes cantos devem começar quando se inicia o rito, e encerrar quando o rito se encerra. Continuar o canto depois que o rito terminou não tem sentido. Outros cantos são o próprio rito, como o Ato penitencial (quando cantado), o Glória, o “Creio”, o Santo, estes constitutivos das partes fixas da Missa. A Instrução Geral fala de “diversos gêneros de cantos”;

INTRODUÇÃO:  NOÇÕES GERAIS.

Os cantos litúrgicos da missa devem respeitar cada um de seus ritos: ritos iniciais, da palavra, rito eucarístico, rito de comunhão e ritos finais.

Devem ser cantos originais, jamais plágios, paródias ou cópias de cantos não católicos. De preferência, eles devem ter aprovação da igreja. Por exemplo, um erro grave ainda muito cometido em algumas paróquias é o seguinte canto do Pai Nosso: “Ó Pai Nosso, Tu que estás nos que amam a verdade, faz o reino que é teu Senhor...”. Este canto é uma paródia da música tema do filme “A primeira noite de um homem”. Outra parória pode ser constatada no canto: “É santo, cheio de glória, ó hosana nas alturas. Bendito, aquele que vem entre nós trazendo a mensagem...”. Este canto é uma paródia da música “Hey Jude”, dos Beathles.

Na liturgia, classificamos os cantos em dois grandes grupos: os que ACOMPANHAM O RITO e os cantos que são o PRÓPRIO RITO. Os que acompanham o desenrolar de um rito são, por exemplo, a procissão de entrada, comunhão, ofertório.. Já os que são os próprios ritos são, por exemplo, o ato penitencial, santo, glória... Os cantos que acompanham um rito devem obrigatoriamente se encerrar ao término do rito (por exemplo, quando a última pessoa terminar de comungar, o canto deve ser finalizado). Já os cantos que são propriamente os ritos devem ser cantados por inteiro.

PROCISSÃO DE ENTRADA:

Significado Litúrgico - Deus caminha ao nosso encontro: esse é o sentido da procissão de entrada. Em passagens bíblicas diversas vemos o povo de Deus caminhar, seja em busca da terra prometida, seja em busca da libertação, seja a caminho de Jerusalém, seja ao encontro de Jesus. É por isso que, de pé, aclamamos a Cristo, na presença do sacerdote, que vem ao nosso encontro, com toda sua majestade, seu poder e sua autoridade, para celebrarmos juntos os mistérios do sacrifício da missa.

Quem preside o ato litúrgico é o próprio Cristo, que se une a nós e se oferece a si mesmo e ao Pai em nosso favor.

O sacerdote, após vestir-se para celebrar a missa, já não é mais ele mesmo que está ali, mas o próprio Cristo! Independente dos méritos do sacerdote, apesar de seus pecados: é o próprio Cristo quem celebra a missa! Cristo faz do padre um instrumento a seu serviço, pois isto independe da nossa condição de pecadores, independe de nossas limitações, independe de nosso estado físico, mental, espiritual: é o poder de Deus que vem até nós e nos faz conduzir ao Pai. E o que o padre consagrar é verdadeiramente o Corpo de Cristo, mesmo que os fieis não tenham fé, mesmo que o padre não tenha fé, mesmo que todos duvidem, pois a realização desse milagre não está condicionada à nossa fé, à nossa natureza humana: vem de Deus, é sacramento ordenado por Cristo: “Fazei isto em memória de mim...” Jesus cumpre suas promessas sem estar condicionada à fé do homem.

 

Este canto acompanha o rito da procissão de entrada e, por isso, deve ser encerrado ao término desta procissão.

Para que um canto seja corretamente considerado canto de entrada, este deve expressar a alegria de estarmos reunidos para celebrar os mistérios de nossa salvação. Deve trazer os temas do tempo do ano litúrgico em que estiver a igreja, por exemplo: no tempo pascal deve falar sobre a ressurreição; no tempo do natal deve falar sobre a encarnação e o nascimento de Cristo; no tempo do advento deve falar sobre a expectativa da espera da vinda do Salvador; no tempo da quaresma deve falar sobre penitência e mudança de vida ou sobre a campanha da fraternidade; no tempo comum pode falar de vários temas.

ATO PENITENCIAL ou Kyrie:

Significado Litúrgico - O ato penitencial, também conhecido na liturgia antiga como Kyrie eleison, pode ser comparado a um capacho posto à entrada de um recinto. Assim como limpamos a sujeira da sola do calçado, semelhantemente, no ato penitencial, recebemos o perdão de todos os pecadosveniais: a impureza adquirida no dia-a-dia, que nos torna indignos de participar do banquete da eucaristia. Os pecados mortais exigem o sacramento da confissão.

Este canto é o próprio rito de ato penitencial e deve ser cantado integralmente, devendo obrigatoriamente conter as frases: SENHOR PIEDADE (ou Kyrie eleison) e CRISTO PIEDADE  (ou Christe eleison). Caso contrário, o canto estará liturgicamente errado.

HINO DE LOUVOR:

Significado Litúrgico - O hino de louvor, ou glória, expressa o louvor de toda a criatura ao Criador, do homem remido ao Salvador e do homem imperfeito ao Consolador, relembrando os pontos principais de todo o mistério de nossa salvação em Jesus Cristo. Este canto deve fazer o verdadeiro louvor, assim como disse São Paulo, o louvor que glorifica Deus pelo que ELE É e não pelo que Ele faz.

Este canto é o próprio rito de hino de louvor e deve ser cantado integralmente.

Por isso, para este canto ser considerado corretamente como hino de louvor, este deve obrigatoriamente conter toda a oração do hino de louvor: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados. Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai Todo-Poderoso nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos adoramos, nós Vos glorificamos, nós Vos damos graças por Vossa imensa glória. Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai, Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós, Vós que tirais os pecados do mundo, acolhei a nossa súplica, Vós, que estais à direita de Deus Pai, tende piedade de nós, só Vós sois o Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Amém”.

É falsa, portanto, a idéia de que apenas basta ter as invocações de “Glória ao Pai, Glória ao Filho e Glória ao Espírito Santo”, para que um canto seja verdadeiro hino de louvor. Com isso, podemos constatar que é um ERRO LITÚRGICO bastante comum em inúmeras paróquias e em inúmeros grupos de canto, a substituição da recitação do hino de louvor por cantos que não o contenham integralmente.

Obs: Durante o tempo da quaresma e do advento não se canta o hino de louvor, pois são tempos litúrgicos de penitência e de contrição, não de festa.